“VALE A PENA TER UM CARRO ELÉTRICO?” Especialistas analisam momento atual do carro elétrico e se ele tem futuro no Brasil e no mundo

Notícias 24/01/2023

Vale a pena ter um carro elétrico? Com a intenção de responder a essa e outras perguntas, a Rádio Jornal, de Pernambuco, reuniu nesta terça-feira (24), o consultor especialista em mobilidade elétrica, Alexandre Costa, o editor geral do programa e do site Carro Arretado, Sílvio Menezes e o empresário Adilson de Souza, para um debate sobre o carro elétrico no dia a dia e o futuro da eletrificação veicular, no Brasil e no mundo.

A conversa, com uma hora de duração, teve mediação do comunicador Wagner Gomes e serviu para esclarecer muitos pontos em relação ao uso no dia a dia, manutenção e mercado para os veículos elétricos.

O consultor Alexandre Costa, entusiasta e defensor da mobilidade elétrica, é taxativo, ele diz que a eletrificação veio para ficar e o motivo não tem a ver com o preço elevado dos combustíveis. “A legislação cada vez mais exigente em relação às emissões de poluentes, vai exigir dos fabricantes de automóveis mais eficientes. Só lembrando, o Inovar Auto, programa de apoio à indústria nacional, exigia como contrapartida para os incentivos fiscais do governo, carros mais econômicos e mais eficientes, foi aí que a indústria adotou os motores de três cilindros e o turbo.

Alexandre Costa lembrou ainda que o Proconve (programa de controle da poluição do ar por veículos automotores) , já retirou do mercado vários modelos de carros mais antigos e considerados mais poluentes. “A nova fase do Proconve, que se inicia em 2025 no Brasil,vai ser ainda mais rigorosa com a emissão de poluentes”, diz Alexandre e Costa apostando que as versões híbridas e híbridas leve se tornarão comuns no mercado nacional.

POSSO FICAR “NA RUA” COM UM CARRO ELÉTRICO?

Todos os entrevistados concordaram que a autonomia e a rede de recarregamento da bateria ainda são os pontos fracos do veículo elétrico. O jornalista Sílvio Menezes, que há 20 anos cobre o mercado automotivo explica suas restrições à nova tecnologia. “Não sou contra, mas também não sou tão entusiasta assim da eletrificação”. Ele explica que, apesar de não ser proprietário de um automóvel movido a energia, ele já possuiu uma bicicleta, um patinete e uma motocicleta elétrica. “Todos me deixaram na rua, por falta de carga na bateria”, lembra.

Sobre este assunto o empresário Adilson Souza pôde dar seu testemunho. Ele já está no segundo carro elétrico e garante: a autonomia declarada pelo fabricante nunca é a real. “De acordo com o fabricante, meu carro deveria ter autonomia de cerca de 400 km. Nunca consegui atingir essa marca. Na prática, ele roda 350 km na cidade e 320 km na estrada”, diz o empresário.

Adilson considera que para ele, o carro elétrico funciona muito bem como segundo veículo da casa. “Acho importante ter dois. Hoje tenho o elétrico para uso na cidade, no dia a dia, e para viagens curtas, de até 130 km, porque assim sei que tenho garantia de ir e voltar sem precisar recarregar. Já o carro à combustão uso quando preciso ir mais longe”, diz ele.

Adilson já se viu em apuros quando se deslocou até a cidade de Garanhuns (250 km da capital, Recife) com o elétrico. Simplesmente não encontrei na cidade uma tomada pública adequada ao meu carregador – trifásica e de 32 amperes. Por sorte, um morador de Garanhuns, também proprietário de carro elétrico cedeu a tomada da residência dele para que eu fizesse o carregamento”, diz Adilson.



PROBLEMAS COM A BATERIA E ATRAVESSANDO ALAGAMENTOS COM CARRO ELÉTRICO

Um dos questionamentos mais comuns é sobre a duração e o custo de reposição da bateria. Sílvio Menezes, lembra de quando a Ford apresentou o Fusion Hybrid, no Salão de Detrot. “Eles prometeram que o carro iria para o Brasil, o que realmente aconteceu, mas indaguei na época quanto custaria para repor a bateria. O pessoal da Ford desconversou, disse que a bateria tinha garantia de 8 anos mas hoje sabemos que trocar uma bateria dessas custa em torno de R$ 35 mil, o que representa boa parte do valor do carro usado”, diz Sílvio Menezes.

O consultor Alexandre Costa lembrou que as baterias dos veículos híbridos e 100% elétricos são do tipo modular. “Essas baterias praticamente não dão problema nunca e, se derem, não precisa trocar todo o pack, basta substituir o módulo defeituoso, o que reduz muito o custo”, afirma Costa.

Outra questão levantada é sobre a segurança de carros elétricos ao atravessar ruas alagadas. “Como o motor elétrico não depende de ar para o seu funcionamento o desempenho dele é até melhor nessas situações se comparado a um carro à combustão”, garantiu Alexandre Costa. “Além disso, todo o sistema de motor e transmissão é isolado, ou seja, na teoria dá para atravessar um alagamento com um veículo elétrico com água chegando ao teto, mas claro que ninguém precisa submeter o carro a uma situação extrema dessas”, alertou.

VALE A PENA TER UM CARRO ELÉTRICO?

Como usuário diário de um veículo 100% elétrico, Adilson Souza não tem dúvidas. Acha que vale muito a pena investir num elétrico apesar do alto preço do veículo. “A condução de um elétrico é indescritível. O carro responde prontamente a qualquer toque no acelerador, não tem aquela hesitação do carro à combustão nas saídas de semáforos e retomadas”, diz o empresário elogiando a agilidade no trânsito. Outra questão é a economia, que para ele equivale a 75% menos do que gastava com combustível. “Além disso tem o IPVA que representa uma despesa a menos, já que muitos estados, como Pernambuco, têm isenção de 100% para IPVA para os carros elétricos”.

Sílvio Menezes acha que os veículos eletrificados irão conviver por muito tempo com os veículos de motor à combustão, mas não o substituirão. “Será um nicho de mercado, como hoje são os conversíveis ou os automóveis de alto luxo”, acredita.

Já Alexandre Costa vê que o mercado premium já aceita prontamente os eletrificados. “O público de alto poder aquisitivo, que compra carro entre R$ 400 mil e R$ 1,5 milhão, já procura naturalmente pelo elétrico porque já tem mais informações sobre a tecnologia ou já experimentou um modelo assim em viagens ao exterior. O desafio é popularizar o elétrico já que carros mais comuns, ainda são caros para a maioria dos consumidores”, diz Costa, lembrando que no Brasil os modelos puramente elétricos mais em conta custam em torno de R$ 150 mil.

Costa diz ainda que os problemas atuais com a rede pública de abastecimento (ainda reduzida) e autonomia das baterias serão resolvidos com o crescimento do mercado. “É preciso lembrar que no início do motor à combustão a gasolina era tão rara que era vendida em farmácias, não havia postos de abastecimento”, conta ele para afirmar em seguida. “A cada ano a participação dos eletrificados cresce no mercado. É um caminho sem volta”.

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